Coisas que acontecem antes deles procurarem ajuda…

Em alguns momentos de nossas vidas nos perguntamos se estamos exagerando em alguns hábitos. “Não estaria ficando muito ao celular?”, “trabalhando demais?”, “comendo demais?”, “jogando demais?”, “comprando demais?”, “bebendo demais?”. Olhando a nossa volta, podemos perceber que não somente nós, mas várias outras pessoas também têm seus excessos. Exageramos sem perceber e nos tocamos quando alguém próximo chama nossa atenção ou quando lidamos diretamente com os prejuízos causados por tais excessos.

É comum ficarmos incomodados quando acontece o exagero e tentarmos nos controlar. Às vezes, tentamos com dedicação duradoura, outras vezes de modo mais passageiro. Ora com mais resultados, ora com menos. Alguns podem oscilar entre a resignação e a dúvida alternando entre “sou assim mesmo… Não tem jeito!” e “será que deveria tentar mudar?”. Esta alternância e instabilidade fazem parte da dinâmica da mudança de vários comportamentos.

Geralmente, o processo de mudança é permeado por dúvidas, resistências e receios. Às vezes é como se existissem dois lados dentro de nós. Enquanto um deseja a mudança, o outro deseja manter a situação da forma como está ou porque pensa não conseguir mudar, ou porque pensa não valer a pena, ou porque pensa não precisar ou mesmo por não saber por onde nem como começar.

A lida com os excessos de bebida alcoólica e outras drogas é feita de modo diferente que os outros excessos em nossa sociedade. Os familiares e as pessoas mais próximas ao observarem alguém se excedendo em álcool ou drogas normalmente a repreendem e às vezes se questionam se a pessoa não estaria dependente. A pergunta do familiar ou amigo é pertinente porque em sua perspectiva observa uma perda de controle em relação à quando consumir e não consumir, em relação à quantidade consumida ou nas atitudes que se assume ou deixa-se de assumir após o consumo.

Embora a dúvida seja justa dadas as observações, ela normalmente é emitida como uma afirmação envolta de sentimentos de raiva, mágoas, deboches, ironias, desesperos e decepções. O rótulo “dependente” vem como uma agressão. Algumas vezes soa como uma agressão paternalista, de alguém que tenta corrigir um mal feito, outras vezes como uma agressão desmedida e injusta.

Seja como for, “dependência” é uma palavra carregada de muito estigma. Ela nos assombra com outros rótulos associados: “vagabundo”, “pobre coitado”, “marginal”, “egoísta”. Outras vezes, assemelha-se a uma maldição lançada sobre nós: “perderás o trabalho”; “serás abandonado pela família”; “acabarás na sarjeta”.

Ódio - Rota Alternativa

Entre um ou outro comentário dos outros levantando esta suspeita ou trazendo ela como uma afirmação a reação mais comum é a defesa. Óbvio! O que por consequência confirma para o outro a sentença de que a pessoa é dependente porque quando é dependência “não existe aceitação de que se está com algum problema”.

“Paro quando quiser!”. Entre uma e outra promessa de mudança não cumprida, frustrações mútuas, nossas e das outras pessoas próximas as quais esperam por uma mudança, cansamo-nos e nos dispomos a uma consulta. Com frequência, chega-se esperando alguma atitude semelhante à dos outros que lidaram com nosso comportamento anteriormente.

Terapeuta modificado

A pergunta “Dr., sou dependente?” geralmente significa outras duas perguntas, no mínimo: “será que realmente preciso parar de beber ou usar drogas?” ou ainda “será que preciso de ajuda para parar?”.

Doutor modificado

Neste cenário, muitos medos e “preguiças” provavelmente vem à tona: “já sei tudo o que ele (profissional) vai me dizer”, “o que ele vai poder fazer por mim se eu já sei que só depende de mim para mudar”, “e se ele me propor internação? Não sou louco!”, além do medo de ser desrespeitado, ser visto ou tratado como alguém de caráter duvidoso. Infelizmente, ainda hoje encontramos profissionais com esta visão do uso de substâncias como algo imoral.

Parar de beber ou usar alguma outra droga não pode ser uma imposição profissional ou de qualquer outra pessoa. Em última instância, parar de consumir alguma substância, envolve uma escolha e um realinhamento de nossas atitudes com nossas expectativas e valores de vida! Neste cenário, é importante encontrar bons profissionais que possam servir de guias e auxiliares para explorar as direções desejadas.

*Texto extraído e adaptado de nossa apostila de tratamento em grupo

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