Exames toxicológicos têm um valioso espaço dentro do tratamento da dependência de substâncias ilícitas como maconha, cocaína, crack, entre outras. Os exames de urina são mais comuns de se utilizar. Eles são capazes de rastrear a presença de algum metabólito destas substâncias dentro de uma margem de 3 a 4 dias. Assim sendo, os exames de urina detectam uso recente da substância, embora possam ser sensíveis mesmo após 4 semanas diante de uso pesado de drogas como maconha, em razão da retenção nos tecidos do corpo.

Via de regra, exames toxicológicos auxiliam no aumento da monitoria do uso de substâncias, contribuindo para avaliar os resultados do tratamento. Também contribuem para o planejamento de intervenções, como é o caso quando se emprega a estratégia de “Manejo de Contingência”, a qual será apresentada em posts futuros. Embora não sejam essenciais ao tratamento de dependência química, a inclusão dos exames toxicológicos como recurso pode agregar alguns benefícios ao tratamento, como melhorar a confiabilidade do relato do uso de substâncias.
É válido lembrar que todo tratamento prescinde de uma relação de confiança bem estabelecida entre terapeuta e paciente. A confiabilidade do relato do uso de substâncias, ou seja, a transparência, deve ser esperada como fruto desta relação de confiança e não somente decorrente do emprego de exames toxicológicos. Neste sentido, sem que se tenha uma forte relação de confiança com o paciente, não será de grande utilidade monitorar seu uso de substâncias por tais meios. No entanto, pacientes que apresentam acentuado grau de comprometimento cognitivo podem se beneficiar de tratamentos que empregam os exames como medida auxiliar de monitoria, em razão de eventuais dificuldades na descrição dos episódios de recaída que estes pacientes em particular podem apresentar. Em tais casos, a participação da família no planejamento de intervenções também deve ser maior.

Na maioria dos casos de dependência de substâncias, os exames também auxiliam na redução do estresse familiar relacionado às desconfianças e monitoramento ostensivo que a família pode adotar como estratégias de controle do uso de drogas do membro. É comum a família ter uma atitude de “fechar o cerco” do usuário de substâncias diante de mentiras, omissões e manipulações, muitas vezes extrapolando os limites da privacidade, invadindo e expondo a intimidade do membro familiar em nome da proteção dele sobre as drogas. A família procura ter acesso às redes sociais do indivíduo, e-mail, mensagens, localização no dispositivo de celular, abre carteira, confere roupas, revira armários, gavetas, faz controle financeiros com cupons fiscais de tudo o que é gasto, cheira mão, cabelo, realiza revista, “olha torto” procurando quaisquer sinais, dá indiretas, entre várias outras atitudes. Como se não bastasse, é óbvio que cada uma destas situações é seguida de brigas e discussões entre as partes. É razoável esperar que a relação entre a família e o usuário de drogas não fique boa, independente se ele tiver feito uso da substância ou não, e até que se prove o contrário, a confusão já está armada.

Os exames toxicológicos tornam dispensáveis grande parte das estratégias de monitoria assumidas pela família, o que pode diminuir consideravelmente o estresse familiar. No entanto, tais recursos não devem ser utilizados sem orientação de um profissional especializado. A família geralmente encontra-se perdida sobre o que fazer mesmo diante da comprovação do uso de substâncias e, no intuito de ajudar, pode adotar medidas contraproducentes.
O emprego de exames toxicológicos pode conferir ao usuário de substâncias maior comprometimento com o enfrentamento de pensamentos permissivos como, por exemplo, “se eu usar, ninguém notará”, “vai ser somente um pouco e ninguém vai perceber”, comuns até mesmo aos usuários mais motivados para o tratamento. Em geral, pensamentos permissivos ocorrem quando estamos diante de situações de potencial risco de recaída. Em tais circunstâncias, saber que o uso será verificado pode sinalizar para consequências negativas que nos permitam pensar duas vezes antes de agir impulsivamente.

Nenhuma estratégia, nenhum recurso terapêutico, nenhum tratamento deve estar acima dos limites éticos, desrespeitar os valores do indivíduo, desconsiderar a motivação intrínseca das pessoas para a mudança. O que expusemos acima, trata-se da apresentação que uma tecnologia que pode estar a serviço do bem estar e promoção de saúde das pessoas desde que utilizada com parcimônia e inteligência.
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