Atenção: não recomendamos a leitura deste texto caso você tenha tido envolvimento com crack anteriormente.
Em posts anteriores explicamos que crack é cocaína para ser fumada, além de algumas diferenças em relação a cada uma destas drogas. Mas você saberia identificar um usuário de crack?
Talvez seja fácil identificar um usuário de crack bastante grave. Estaríamos dizendo daquela pessoa emagrecida, com a pele acinzentada, cicatrizes no rosto, com lábios e dedos queimados, apresentando uma higiene pessoal precária, dentes amarelados e dando sinais de descalcificação. Mas, não… Existe um caminho a percorrer até a aparência física dar sinais de alarme.
Bill Clegg, escritor e agente literário em Nova York, descreve em seu livro “Diário de um viciado quando jovem” seu envolvimento com crack e sua decadência profissional, social e, porque não, moral. Bill é um dos crescentes exemplos de que o uso de crack não está restrito às classes menos favorecidas economicamente, mas que hoje se exibe em todos os estratos sociais.
A grande diferença no uso desta substância é que ao invés de frequentar as “cracolândias” dos centros das cidades, pessoas com melhor condição financeira frequentam bons hotéis/motéis ou procuram fazer uso mais solitário em casa. Escondem-se de serem vistos e estigmatizados, bem como evitam meios onde o risco de violência seja maior enquanto têm salvaguarda financeira para manter esta atitude.
Formas de iniciação
A grande maioria dos usuários de crack fizeram uso de outras substâncias anteriormente. A migração para o crack muita das vezes reflete a procura por alguma substância mais potente e de baixo custo – muito mais barata que cocaína.
A experimentação normalmente é mediada por um parceiro já iniciado no uso da droga e com frequência se dá através da mistura de maconha com crack, conhecida como mesclado ou beréu, posteriormente evoluindo para a utilização do crack apenas.
Forma de uso
O crack pode ser fumado em cigarros comum, adicionado à maconha, consumido em cachimbos normais ou improvisados a partir de latas, garrafas plásticas, copos de iogurte, tubos, mangueiras, entre outros.
Em uma lata de cerveja, por exemplo, o usuário faz pequenos furos na sua lateral, sobre onde colocará a pedra. Entre o crack e os furos da lata, o usuário coloca cinzas de cigarro para que parte da pedra que liquefaz depois de aquecida seja retida nas cinzas, possibilitando um maior aproveitamento da pedra e o reaproveitamento da resina obtida com a raspagem do cachimbo posteriormente.
Ao aquecer o crack utilizando um isqueiro é comum que o usuário tenha lesões por queimadura nos dedos em função da chama ou do aquecimento da pedra do isqueiro. Além disso, lesões por queimadura nos lábios e nariz também podem ocorrer em função do aquecimento do cachimbo, dependendo do material que é feito.
Efeitos do crack
“Ele vê aquela nuvem se espalhar e formar anéis e sente a onda primeiro como uma vibração, depois como um terremoto. Um raio de energia renovada eletriza cada centímetro do seu corpo, e há um momento de esquecimento perfeito, quando ele está consciente de nada e de tudo ao mesmo tempo. Uma espécie de paz surge por trás dos seus olhos. Espalha-se das têmporas para o peito, depois para as mãos, depois para todo o resto. É algo que o bombardeia – algo cinético, sexual, eufórico – como um magnífico furacão girando na velocidade da luz. É a carícia mais terna que ele já sentiu, mas, quando recua, torna-se o mais gelado dos toques. Ele sente falta dessa sensação antes mesmo de ela ir embora, e não apenas quer mais, como precisa de mais” (Diário de um viciado quando jovem – Bill Clegg)
No início do uso, o crack tem um efeito euforizante, traz uma sensação de bem estar e autoconfiança, aumenta o estado de alerta e vigília, além de aumentar a libido e promover uma aceleração dos pensamentos.
Num segundo momento, passado o efeito, o indivíduo experimenta irritabilidade e labilidade emocional, tristeza e fadiga. Pode-se dizer que esta segunda fase seja exatamente o início da síndrome de abstinência iniciada em razão da diminuição da concentração plasmática da cocaína.
Com o passar do tempo, a primeira fase torna-se progressivamente menor, enquanto que a segunda fase torna-se mais rápida e extensa. É comum o indivíduo persistir no uso da droga como uma forma de evitar os sintomas de síndrome de abstinência, iniciando um processo de compulsão. Em geral, a compulsão cessa apenas quando o indivíduo já se encontra exausto fisicamente ou sem recursos para a continuidade.
Mudanças de comportamento típicas
Para além das mudanças físicas apresentadas por um dependente de crack existem vários outros sinais de seu uso a partir de mudanças de comportamento. Tais mudanças são observadas quando ele está sob efeito, quando passado o efeito e também envolve outras mudanças comportamentais relacionadas à garantia da manutenção do uso da substância e à tentativa de minimização dos problemas relacionados a seu uso.
Abaixo, elaboramos uma imagem para ilustrar estas alterações.
Concluindo…
A dependência de crack é uma doença grave, que pode levar a sério comprometimento físico, mental e moral do indivíduo. Embora haja indivíduos em graus de comprometimento variados, em geral, a dependência instala-se rapidamente após a experimentação.
No auge da dependência desta substância, as pessoas encontram-se mais sujeitas a mortes por homicídios em razão de endividamento com traficantes, provocação de brigas e realização de roubos, eventualmente na proximidade de “bocas”, o que conturba a região próxima aos traficantes e chama a atenção da polícia.
É triste perceber que esta população é cercada por tantos estigmas e preconceitos que mesmo nos serviços de saúde existentes são frequentemente rejeitadas. O tratamento deve envolver a utilização de vários recursos terapêuticos (farmacoterapia, terapia cognitivo-comportamental, terapia familiar, estratégias para reinserção profissional, entre outros) e de complexidade variada (atendimento ambulatorial, hospital-dia, internação) a depender do grau de dependência e comprometimento do indivíduo.
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