Nenhum gatilho causa uma recaída isoladamente. Na verdade, os gatilhos são como fatores de risco. Somados, aumentam a probabilidade da pessoa engajar no comportamento de busca, compra e consumo da droga.
A afirmação “Bebi porque encontrei com o Zé” é uma descrição de gatilho. No entanto, pode se revelar uma descrição limitada se observarmos que nem sempre bebe-se quando se encontra o Zé. Uma descrição mais fidedigna talvez fosse: “Encontrar com o Zé nem sempre me faz recair, embora aumente minhas chances, principalmente aos finais de semana, quando estamos sós e eu me sentindo entediado!”. Deste modo, encontrar com o Zé, final de semana, sem outras companhias e se sentindo entediado são gatilhos que podem disparar fissura pela droga e diminuírem as chances de passar por esta situação “limpo”.
Além disso, é importante dizer que cada gatilho tem uma força diferente! Esta força varia em razão da intensidade das “boas” consequências do consumo numa dada ocasião (ex.: relaxamento, euforia, distração, etc), bem como da frequência com que a situação é associada ao uso.
Como cada uma destas situações irá influenciar a pessoa é algo intimamente relacionado à sua história de consumo da substância, sendo que alguns destes gatilhos podem ser mais evidentes a ela, enquanto outros são de percepção bastante sutil. Uma vez motivado, o desafio da mudança envolve reconhecer estes mecanismos para que se possa modificá-los.
A verdade é que várias situações do cotidiano, companhias, locais e sentimentos foram sendo associadas ao consumo de álcool ou droga, sendo natural que se estabelecesse ao longo do tempo a noção de situações “propícias” para o consumo ou situações “boas” para usar ou beber. Se pararmos para pensar, veremos que todos nós temos uma destas situações! Assim sendo, a mudança passa pelo aprendizado de novos repertórios e pela quebra dessas associações que foram estabelecidas e reforçadas.
Na medida em que conseguimos prevenir recaídas, progressivamente os gatilhos perdem força e não mais despertam vontades ou lembranças em relação ao uso. Ou seja, em sua recuperação, ou na recuperação de seu ente ou paciente, haverá um momento em que não se vivenciará mais os finais de semana, feriados ou outras circunstâncias como situações de risco, embora seja razoável admitirmos que no momento inicial algumas destas situações sejam evocadoras de lembranças, vontades e fissuras.
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