O álcool é a droga mais consumida na população mundial, com números muito superiores a qualquer outro tipo de substância psicoativa. O consumo de álcool é considerado a quinta causa de morte prematura e invalidez no mundo, além de ser um importante, se não o principal, gatilho para a violência doméstica e urbana. É também a droga com o maior status social: é glamourizada, seu consumo normalmente é muito bem aceito e até mesmo incentivado. Em quase todas as situações de reunião social e comemorações, sua presença é quase imprescindível. Para alguns, é também um poderoso meio de escape de problemas ao alcance da mão – o alívio imediato.
Em nossa cultura o consumo de álcool funciona como um rito de passagem para a vida adulta e construção da identidade. Existe um incentivo social muito grande a partir da adolescência para que se inicie o consumo de álcool. E, desde esse primeiro momento, o incentivo não é para um consumo moderado. Entre os homens, é quase uma competição. E, em relação ao “tornar-se homem”, aquele que não bebe está falhando nesse teste.
De certo modo, os homens, para serem considerados como tais, devem ter estilos de vidas destrutivos, se envolvendo em diversas situações que colocam em risco sua integridade física. O consumo de álcool também é um exemplo desse estilo de vida. Quem bebe mais, quem aguenta mais, é o mais homem. Beber e dirigir é mal visto, mas dificilmente vemos os amigos questionando essa ação. No entanto, vemos os amigos questionarem o não beber, por exemplo. O homem que não bebe normalmente é ridicularizado por outros homens e até mesmo por mulheres.
Uma possível relação com essa questão é o medo constante que os homens têm de qualquer coisa que seja associado ao feminino. Têm que provar o tempo todo que não são “mulheres”. Devem beber como homens, se portar como homens. Até mesmo a mulher que bebe muito é dita que bebe como um homem. Não existe espaço para se discutir essa relação, porque quem o fizer parecerá “fraco”, “feminino”. Demonstrar sofrimento não é coisa de homem, chorar não é, ter medos não é, ser inseguro não é…
A ansiedade é talvez o grande problema da população adulta atual. O álcool vem como uma forma de entorpecer esse sentimento, dificultando traçar relação entre as situações vividas e a razão desse sentimento. Homem é quase um gênero em silêncio, não pode dialogar. Não tem espaço para sentir e trabalhar suas questões. Na adolescência, o número de suicídios efetivos de meninos é significativamente maior que o de meninas. É nesse período também que o falar sobre sentimentos praticamente some do vocabulário dos meninos.
O álcool é uma forma que os homens encontram também de dar vazão aos seus sentimentos. Quando bêbados, dizem que amam, se abraçam com frequência e até mesmo choram e revelam algumas angústias. Mas assim que o efeito passa, também somem esses comportamentos.
A forma como o homem deve se portar e sentir é ansiogênica e adoecedora e, não havendo possibilidade para discussão e desconstrução disso, o se drogar é quase necessário. O álcool entra quase automaticamente na vida de algumas pessoas no momento em que não estão ocupados com o trabalho. O que indica que esse estilo de vida provavelmente não é tão saudável.
Questione a sua relação com o álcool! O álcool pode ser nossa muleta social, mas isso não significa que devemos reforçar essa relação. Tente desvincular o seu divertimento com o álcool, beba em menores quantidades, ensaie um período de abstinência. E, quando alguém lhe disser que você está bebendo como uma “mulherzinha”, orgulhe-se disso!
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