A interrupção do uso de algum tipo de droga é um processo de mudança intenso, e como tal, requer esforços importantes e consistentes durante um período de tempo. Qualquer processo de mudança, por si só, já implica em desafios e resistência. Um processo de mudança que envolve um elemento tão forte como a droga dificilmente obterá êxito sem a disciplina do usuário.
O período que sucede a interrupção do uso é um dos mais complicados e, consequentemente, um dos momentos onde é mais provável que ocorram episódios de lapso ou recaída. Esse período é então o início de um longo e contínuo processo de mudança, portanto, os novos comportamentos que o sujeito se propõe a executar e as novas situações que ele irá se submeter não são “naturais” para ele.
Queremos dizer com isso que muitas vezes estaremos indo na direção contrária do nosso “piloto automático”, ou seja, nosso jeito habitual de responder às situações que encontramos. Assim, por exemplo, se sentimos uma fissura intensa, tentaremos ir na direção contrária do que fazíamos anteriormente e procuraremos estratégias para nos mantermos abstinentes.
Tal tipo de mudança é complicada porque, por muitas vezes, pode parecer que estaremos indo na direção contrária dos nossos sentimentos. Podemos dizer que, de certa maneira, a mudança dos sentimentos e dos pensamentos será secundária, como um efeito da mudança do padrão de resposta às diversas situações de risco. É como dizer que mesmo tendo medo, não fugiremos. Mesmo tendo raiva, não brigaremos e, mesmo tendo vontade, não usaremos. E, com o tempo, a mudança dos sentimentos e dos pensamentos acompanhará a mudança inicial dos comportamentos observáveis.
Sabendo então que nesse primeiro momento estamos mais suscetíveis a essas oscilações da forma como sentimos e pensamos, precisamos ainda mais de disciplina, para que assim, após um tempo estando “limpos”, as coisas fiquem mais espontâneas. Podemos considerar esses comportamentos como sendo de autocontrole e eles têm uma importante função na prevenção de recaídas.
Assim, podemos mudar o nosso trajeto diário a fim de não mais passar tão próximo ao local de compra ou consumo da droga. Evitamos ir a lugares onde sabemos que as pessoas estarão usando, como festas, baladas, etc. Nos afastamos de pessoas que foram parceiras de uso. Não mantemos bebida alcoólica em casa. Procuramos sair sem tanto dinheiro em mãos. Não guardamos latas em casa (no caso de usuários de crack). Paramos de beber, mesmo que o álcool não seja a droga primária causadora dos nossos problemas. Informamos às pessoas próximas para onde iremos e em quanto tempo deveremos voltar. Enfim, cada pessoa deve se afastar de situações e comportamentos que estavam associados ao uso e que podem desencadear vontade de usar, além de ingressar em comportamentos que são incompatíveis com o uso.
Isso não quer dizer que teremos que manter um alto nível de esforço para o resto da vida. Com o tempo, à medida em que a mudança começa a ficar mais consistente, vamos ficando mais preparados para lidar com certas situações. Eventualmente, poderemos nos reaproximar de algumas situações que mantém relações não exclusivas com a substância problema, como é o caso de algumas festas para um alcoolista, ou seja, situações das quais nos mantermos afastados pelo resto da vida poderia ser até mesmo prejudicial. Mas é sim a disciplina que nos manterá firmes em nosso propósito em diversos momentos, podendo superar a motivação ou a falta dela.
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