O conhecimento técnico/científico a respeito do fenômeno da dependência química aumentou consideravelmente nos últimos anos. Entretanto, apesar do muito que se sabe sobre a doença, ainda há uma grande quantidade de aspectos que carecem estudos. A existência de lacunas em algumas teorias e mesmo de contradições conceituais, incentivam a pesquisa e a constante releitura desse fenômeno. Por outro lado, a falta de consenso sobre o tema também abre brechas para formulações errôneas.
A incerteza quanto ao entendimento do que é a dependência química e de seu curso “natural” pode favorecer a noção de que não existe um caminho melhor, ou mesmo tratamentos corretos para a dependência. Partindo daí, soluções mágicas e promessas de resultado instantâneo soam muito tentadoras. Esta é uma expectativa fácil de ser compreendida. A lógica de que qualquer tentativa é válida pode ser explicada diante de um cenário de incertezas.
O uso de remédios milagrosos, industrializados ou não, práticas místicas, rituais de purificação e outras práticas alternativas tendem a ser atitudes que amenizam o sentimento de impotência frente ao problema, mas raramente contribuem para uma melhora real.
Sabemos que as pessoas possuem concepções diferentes sobre o mundo e creem em coisas diferentes. O problema ocorre quando se busca responsabilizar uma instância superior e inacessível pelo problema em questão, seja esta instância a genética ou, em uma visão espiritual, seu karma, dentre outras formas de compreensão. Ao desconhecer a natureza da doença, pode-se visar uma “cura” súbita e deixar de lado alternativas importantes de tratamento cientificamente consolidadas até o momento.
Além disso, já explicamos aqui no texto “Alcoolismo tem cura?” que o transtorno por uso de substâncias é uma patologia de caráter crônico, ou seja, a melhora está ligada à continuidade do tratamento e não é um único ato ou intervenção médica/divina. Esta ideia errônea é reforçada quando se ouve um caso no qual alguém conseguiu se livrar do vício “apenas” fazendo aquela simpatia ou tomando aquele remédio. Quando essa história é contada, acredita-se que alcançar êxito foi um processo simples. O erro ocorre porque é impossível saber os pormenores do “tratamento” realizado e todas as tentativas prévias e mudanças que o indivíduo passou até parar. De maneira análoga, imagine o cenário de alguém tratando-se de um câncer e após passar por quimioterapia e por todo o tratamento tradicional dizer que melhorou depois de tomar um determinado chá.
Outro agravante destas soluções mágicas é o fato de que não se sustentam com o passar do tempo, mas criam a ilusão de que funcionaram, já que a recaída será atribuída a outro fenômeno não relacionado ao fracasso das mesmas.
Alcoolismo e dependência em outras drogas são problemas de saúde pública com grande impacto social. Diversas pessoas sofrem diariamente em função da dependência ou da convivência com pessoas dependentes. O problema precisa ser abordado com seriedade e conhecimento científico. Soluções mágicas e promessas de “cura instantânea” podem causar vários males às pessoas que já estão sofrendo e precisam de ajuda para construírem uma vida melhor pra si.
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