Talvez uma das perguntas que as pessoas mais desejam ver respondidas seja esta. Todos querem saber se existe cura para o alcoolismo. Estamos cercados nos dias de hoje de promessas fáceis, rápidas e mágicas de soluções para nossos problemas. Anúncios como “alcoolismo tem cura! 100% natural!” encontram-se espalhados nos postes da cidade e por meio de anúncios na internet.
A vontade é que houvesse algo que removesse por completo a vontade de beber ou de usar qualquer outro tipo de droga. Embora consigamos encontrar casos em que as pessoas pararam desta forma, normalmente, tratam-se de desfechos de longos processos de tratamentos e ações variadas. Neurocirurgia, LSD, Santo Daime, Ibogaína, entre outros, fazem parte destas várias ondas culturais sobre soluções miraculosas. Embora, sejam absolutamente válidas as tentativas e principalmente a pesquisa científica séria sobre elas, tais exemplos encontram-se no plano de tratamentos sem comprovação científica ainda.

No editorial do volume 97 (2002) da revista Addiction, uma das maiores referências científicas internacionais no campo das dependências, encontramos a seguinte chamada “Have we evaluated addiction treatment correctly? Implications from a chronic care perspective” (Estivemos avaliando o tratamento das adicções corretamente? Implicações de uma perspectiva de cuidado crônico). Resumidamente, o editorial questiona a expectativa de várias pesquisas de fornecer um tratamento que dê uma solução final, sem a possibilidade de recidiva do problema, e compara a dependência química a outras doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, asma, entre outras. Afinal, o tratamento de todas as referidas doenças deve ser mantido para os ganhos serem mantidos. A mudança de perspectiva altera substancialmente a forma como avaliamos o tratamento.

Ao considerarmos o alcoolismo e outras dependências como doenças de natureza crônica, ao contrário de sermos fatalistas, pretendemos readaptar as expectativas que realizamos sobre os tratamentos empregados. Queremos dizer que recaídas, a recorrência de sintomas desta síndrome ao longo da vida, podem acontecer assim como em outras doenças de natureza crônica. Na verdade, quando comparada a outras doenças de natureza crônica, podemos dizer que as taxas de recaída são bastante semelhantes, senão melhores.

Existe um movimento muito interessante nos Estados Unidos conhecido como “Faces and Voices of Recovery”. O movimento procura retirar do anonimato celebridades e demais pessoas que passaram por problemas com álcool e drogas, expressando publicamente suas experiências de forma a recrutar apoio político para o planejamento de ações sociais e de saúde aos dependentes químicos e seus familiares. Em paralelo, criaram um conceito bastante simpático: “dependente químico em recuperação avançada”. Gostamos deste conceito porque ele traduz um bom desfecho de tratamento. Pessoas que embora reconheçam ter um problema, são capazes de gerir sua vida e viver de maneira saudável.
As pessoas engajadas em tratamentos adequados e por períodos apropriados param de beber, recuperam sua satisfação familiar, suas capacidades profissionais, sua saúde física e emocional. O alcoolismo pode ser manejado corretamente e, se ainda não podemos dizer que ele tem cura, é perfeitamente possível dizer que temos várias alternativas para seu controle!
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