Depressão e Álcool: uma breve visão analítico-comportamental

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Existe uma conhecida correlação entre transtorno depressivo e consumo problemático de álcool. Segundo o Lenad II (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), a prevalência de depressão é substancialmente maior entre aqueles que possuem problemas relacionados ao consumo de álcool. Além do mais, entre os brasileiros que atentaram contra a própria vida, em 24% das vezes essa tentativa estava relacionada com o consumo de álcool. Mas o que poderia explicar tal relação?

A relação entre depressão e consumo problemático de álcool se configura como uma via de mão dupla, na qual tanto o agravamento do quadro depressivo pode levar ao aumento do consumo da substância, como também o aumento do consumo pode levar ao agravamento do quadro depressivo. Esse cenário, uma espécie de espiral descendente, deixa claro como pode ser perigosa a associação desses dois elementos.

Dentre as diversas funções que o consumo de álcool pode exercer para determinado indivíduo é comum que nos casos de depressão a função denominada de fuga/esquiva prevaleça para aquele que apresenta um consumo abusivo. Dizer que uma pessoa recorre ao álcool com uma função de fuga/esquiva significa dizer, a grosso modo, que ela utiliza a bebida como uma forma de se afastar, mesmo que momentaneamente, de situações aversivas ou mesmo de pensamentos e sentimentos desagradáveis.

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Em um primeiro momento a bebida consegue cumprir com seu papel. Afasta o indivíduo daquilo que está lhe incomodando e causa o alívio tão desejado. Esse caráter funcional é que mantém o comportamento de beber. Se não trouxesse consequências, certamente esse comportamento já teria cessado. O problema são as repercussões a médio e longo prazo desse beber.

Por mais que a bebida traga um alívio imediato, ela não soluciona o que está causando o desconforto que ela busca apaziguar. Na verdade, é bem provável que esses problemas se agravem ainda mais, tornando assim cada vez maior a necessidade de recorrer ao álcool para que se obtenha o alívio desejado.

Diversos contextos podem influenciar no início de um transtorno depressivo. É importante lembrar que sempre existe uma multideterminação entre o biológico, o psicológico e o cultural. Assim, o sujeito que apresenta uma baixa densidade de reforçadores em seu contexto por um período prolongado pode apresentar sintomas depressivos. Ou aquele que possui determinados repertórios comportamentais em processo de extinção, ou seja, comportamentos que antes produziam importantes reforçadores agora não mais o fazem (por exemplo, o indivíduo que perde um ente muito querido e se vê em várias situações fazendo atividades sem, no entanto, contar com a presença estimulante desta outra pessoa que fazia tudo ficar mais divertido) e não existe variação comportamental suficiente para compensar, pode também desenvolver o transtorno. Contextos com aversividade moderada que se estendem por um longo período, ou uma situação aversiva imediata de grande magnitude (como um trauma), ou até mesmo contextos aversivos com caráter de incontrolabilidade são também situações que podem contribuir para o surgimento de sintomas depressivos.

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Em todos esses contextos o álcool pode entrar como uma “muleta” para lidar com tais situações e, por que não, com sentimentos e pensamentos desagradáveis. O grande porém é que esse uso “paliativo” pode acabar gerando por si só uma necessidade cada vez maior de consumo da própria substância. À medida que o sujeito vai se tornando dependente do álcool, psicologicamente e quimicamente, sente gradativamente um desconforto causado pela falta da bebida. Esse desconforto (ansiedade, irritação, mal-estar, desmotivação, etc.) acaba também por intensificar o quadro depressivo. E, para lidar com tudo isso, o sujeito pode recorrer novamente ao álcool.

Agravar bebendo

Fica claro assim como é complicada a relação entre depressão e uso abusivo de álcool. Existe ainda o agravante de o álcool interferir na eficácia da medicação psiquiátrica para a depressão. Quanto mais o sujeito recorrer a solução de curto prazo para o seu problema (nesse caso a bebida), mais complicado será a solução a longo prazo. A saída, em geral, passa por tratar os dois problemas de forma concomitante.

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