Passar pela experiência de ter problemas relacionados e ocasionados pelo consumo de drogas certamente é uma situação complicada, dolorosa e incômoda. Aqueles que passam por essas adversidades normalmente desejam que tivessem feito diferente e que tudo o que aconteceu não passasse de um pesadelo. Problemas familiares, financeiros, profissionais e de saúde podem se acumular em uma rápida progressão e à medida que o indivíduo permanece no passado, ruminando as lembranças dolorosas de decisões mal tomadas, pode acabar se afundando ainda mais no consumo, nos problemas e sofrimento presentes.
Esse é um caminho que comumente é trilhado por aqueles que começam a ter problemas com o uso de drogas. A dificuldade de lidar com as consequências acumuladas de suas decisões e de admitir para si mesmo a realidade conturbada presente pode repercutir em uma necessidade muito forte de se esquivar de tudo que está acontecendo. Porém, além de funcionar apenas parcialmente e de uma maneira muito efêmera, tal esquiva pode ser extremamente prejudicial, visto que não coloca o sujeito em contato com a real raiz dos seus problemas.
Como já abordamos em um outro momento, dizemos que, para além da questão química da droga, o comportamento de usar uma substância psicoativa cumpre funções importantes no contexto do sujeito. Considerando esse aspecto fundamental, devemos pensar de que forma esse uso pode se relacionar com possíveis dificuldades que esse indivíduo apresenta. Em outras palavras, devemos pensar se o uso de drogas vem preencher uma lacuna (ou lacunas) gerada(s) por déficits de repertórios comportamentais até mesmo anteriores ao início do uso intensivo e regular da droga.
Ao abordarmos isso, estamos dizendo de certa propensão e vulnerabilidade ao uso e abuso da substância psicoativa. Algumas habilidades que seriam fundamentais e deveriam ter sido desenvolvidas no transcorrer da vida do sujeito não o foram, ou foram apenas parcialmente.
Assim, os problemas com as drogas podem também evidenciar uma outra importante questão que por vezes pode ter sido negada ou não percebida. Pode evidenciar que o sujeito já tinha dificuldades anteriores ao início do uso e que esse uso se “encaixou como uma luva” a um contexto já conturbado. Vale ressaltar que não estamos dizendo que o uso seja benéfico, apenas que ele pode servir como uma espécie de “bengala” para lidar com situações complicadas para aquele indivíduo.
Como diz o ditado, “podemos aprender pelo amor, ou pela dor”. Certamente o aprendizado que se tem após a experiência de problemas com o uso de drogas vem pela dor. Mesmo que seja devido a uma série de graves problemas que ocorreram, o sujeito sente a necessidade de uma mudança e, quando ela ocorre, pode torná-lo mais fortalecido do que quando todo esse processo começou.
Porém, essa mudança só se dá a partir do momento que o sujeito se conecta com o presente, lida com as implicações do seu uso, aceita a realidade e se propõe a atuar sobre ela. Ficar preso no passado, reclamando por um presente diferente e pensando sobre como as coisas poderiam ser se tivesse agido de alguma outra forma somente nos mantém imobilizados e em sofrimento.
Tudo que vivenciamos pode ser transformado em experiência e nos ajudar no crescimento. Até mesmo pela dor podemos nos transformar e nos tornar mais sujeitos de nossos contextos.
“O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.O que ela quer da gente é coragem.
(…) O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.”(Grande Sertão Veredas)
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