Nos textos que temos publicados em nossa página recorremos constantemente à ideia de que o uso de qualquer droga é um comportamento que cumpre ao menos uma função para o sujeito que o emite. Assim sendo, uma das diretrizes no tratamento dos transtornos por uso de substâncias psicoativas é o desenvolvimento de habilidades que visem proporcionar ao usuário uma maior autonomia e melhor possibilidade de atuação em seu contexto, ou seja, tornar a pessoa mais competente e adaptada ao seu meio. Destacamos aqui a importância de trabalhar os comportamentos enquadrados na classe “assertividade”.
Comportamento Assertivo
Resumidamente, um comportamento assertivo pode ser considerado como uma forma de comunicação clara e direta, na qual o sujeito consegue se posicionar e expressar os seus desejos e o modo como se sente em relação a determinado assunto ou situação, agindo em função de demandas próprias a fim de ter reconhecidas as suas necessidades, sem com isso desconsiderar ou desrespeitar o outro.
Mas por que será que é tão difícil aprender a ser assertivo?
À primeira vista, dizemos que pode ser muito mais cômodo e prático não se posicionar de forma assertiva. Com isso, evitamos que outra pessoa se incomode e se irrite conosco e com aquilo que dizemos. Porém, a repercussão desse padrão a um longo prazo pode ser catastrófica e o sujeito pode se ver preso em uma situação cada vez mais complexa e difícil de solucionar.
Portanto, desenvolver tal habilidade – expressar sentimentos, desejos e pensamentos sem infringir os direitos dos outros – requer que o sujeito entre em contato com certo grau de incômodo e ansiedade inicial para não permitir que os mesmos incômodos se acumulem e se transformem em problemas de proporções maiores. Além de que, dessa forma, o indivíduo consegue ter acesso a elementos importantes para seu bem estar e que respeitem as suas necessidades.
A assertividade (ou a falta dela) e o uso de drogas
Sujeitos com habilidades de comunicação assertiva pouco desenvolvidas tendem a experienciar um importante grau de incômodo nas situações que requerem dele um posicionamento assertivo. Além do mais, à medida que não conseguem ser assertivos, os problemas provavelmente se acumulam e o desconforto nas relações tende também a aumentar.
Por não se perceberem hábeis o suficiente para solucionar as situações, que se complicam cada vez mais, os usuários podem recorrer ao uso da substância como uma forma de se afastar de tudo isso que os incomoda, mesmo que esse seja apenas um alívio momentâneo. Não quer dizer que a pessoa acredite que assim está resolvendo seus problemas, apenas que não vê outra maneira possível de lidar com eles.
O problema é que, à medida que o indivíduo se esquiva, as dificuldades tendem a aumentar; e à medida que as dificuldades aumentam, o sujeito sente que precisa se esquivar ainda mais. Essa espiral descendente precisa ser percebida e trabalhada durante o processo terapêutico, demonstrando para o sujeito não apenas a forma como poderia se comportar, mas também as consequências a longo prazo que provavelmente acompanharão seus padrões de não assertividade.
Vale lembrar que, como todas habilidades sociais, a assertividade pode requerer um treinamento para que a pessoa a desenvolva. Não significa dizer quer devemos ser assertivos sempre, mas sim que consigamos dispor dessa habilidade e usá-la quando for necessário. Também não podemos generalizar e pensar que todos os usuários de drogas são pouco assertivos, apenas esse é mais um importante elemento que devemos considerar durante o processo terapêutico.
Pingback: Como anda sua escolha. É cognição ou processual (onde a vaca vai? o boi vai atrás?) – Ivan
Texto complexo demais. Até eu que tenho um bom entendimento das coisas não consegui entender direito.
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