Dentre as dúvidas que surgem quanto ao tratamento, uma se faz digna de discussão principalmente por possuir um caráter contraditório: a prescrição de medicamentos ao usuário de álcool ou drogas. É comum o pensamento de que usar alguma medicação no tratamento de problemas relacionados ao uso de substâncias é trocar uma droga por outra. Esse tipo de pensamento é esperado, mas possui erros. Afinal, quando e por que o uso de medicamentos pode ser importante?
Para início de conversa, cabe informar que o profissional responsável por prescrever uma medicação auxiliar no tratamento é o médico psiquiatra. Sua prescrição deve seguir protocolos aliados a uma análise do quadro de cada paciente. Levará em conta o grau de fissura experimentado, a gravidade da síndrome de abstinência, a dificuldade no controle de impulsos, regulação do sono e do humor, além de outras doenças físicas e mentais existentes, as quais de alguma forma podem dificultar o autocontrole e a busca pela sobriedade.
Auxiliar na Fissura
Uma das funções do medicamento é ajudar o paciente a suportar processos intensos de fissura. Neste caso, a medicação pode auxiliar atenuando um momento angustiante, no qual o único alívio possível, aos olhos do usuário, é a droga. O medicamento não substitui a droga, mas sim fornece um alívio e, por que não, dá esperança ao paciente de que é possível superar o desejo de consumir a mesma. Medicações com função de diminuir a fissura são, no máximo, alternativas temporárias e de transição a um período intenso do uso de drogas para a abstinência.
Controlar a Síndrome de Abstinência
Outra função de medicar é atuar na síndrome de abstinência. Dependendo da droga usada, uma crise de abstinência é uma ocorrência intensa e que em alguns casos pode levar a óbito. Medicar a pessoa em um momento como esse é necessário e visa a proteção contra danos maiores. A síndrome de abstinência do álcool, por exemplo, no seu estágio mais grave é caracterizada por convulsões, vômitos, intensa sudorese, elevação da pressão arterial, podendo chegar a quadros de agitação, alucinações e delírios transitórios.
Tratar uma Comorbidade
Também é possível prescrever medicamentos para aspectos e sintomas específicos que dificultam o tratamento em álcool e drogas. Usuários que fazem uso de substâncias psicoativas como uma espécie de “automedicação”, podem se beneficiar sendo medicados corretamente. Acreditem, algumas pessoas têm na droga a única forma conhecida para lidar com sintomas de ansiedade, depressão, insônia e outros sintomas diversos. Algumas vezes têm um transtorno de natureza crônica que se desenvolveu paralelamente ao uso da substância e não fora diagnosticado até então. Outras vezes vivenciam uma condição transitória com maior ou menor duração, diante da qual necessitam de um suporte medicamentoso que ofereça condições básicas para a aquisição de repertório e habilidades de enfrentamento. Assim sendo, a medicação dá condições para a pessoa buscar desenvolver habilidades de enfrentamento, assim como trata os transtornos existentes para além do uso de álcool ou outras drogas.
Dependência de Medicamentos Existe?
A dependência de medicamentos é uma realidade e um risco sim! Existem pessoas viciadas em medicamentos, a maioria dependente de ansiolíticos/hipnóticos ou estimulantes. Os processos pelos quais essas pessoas terminam por criar dependência dessas substâncias são os mais diversos, mas muito raramente isso ocorre seguindo corretamente as orientações do médico.
Casos de má conduta existem em todas as áreas, mas o profissional da psiquiatria ao medicar busca ajudar o paciente na luta por uma vida melhor e com mais significado. A dependência de medicamentos, os quais tinham inicialmente finalidade terapêutica, poucas vezes está ligada ao uso prescrito pelo médico como auxiliar no tratamento de outras dependências.
Todos os envolvidos neste processo, paciente, profissionais e familiares devem estar atentos ao uso correto da medicação. Além disso, nenhum medicamento vai curar magicamente os problemas relacionados a álcool e drogas ou apagar sua história de uso. O tratamento envolve mudanças de atitude frente a situações diversas do dia a dia.
Na busca por uma vida melhor e pela sobriedade, cabe a todos tentarmos ser mais humanos e solidários e nos valermos de todos os recursos disponíveis, pois essa batalha não é fácil. A confiança nos profissionais e a competência dos mesmos são fatores que contam muito durante o tratamento.
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