Brincadeiras à parte, o vídeo da Família Dinossauro ilustra uma condição real em referência à dependência do álcool. Usar a bebida como forma de afastar pensamentos ou sentimentos ruins é tão comum que dizer que alguém pretende “afogar as mágoas” é uma expressão usada no dia a dia, além de exaltada em algumas canções. Em Análise do Comportamento dizemos que esta forma de beber está sendo mantida por “reforçamento negativo”, ou seja, ao beber a pessoa retira do ambiente, da cabeça e do coração, se preferir, um estímulo aversivo. A grosso modo, bebe-se para esquecer ou para não ter que lidar com algo ruim.

Há um trecho em uma música dos Racionais que inicia com um garoto dizendo “comecei a usar para esquecer dos problemas”. Não duvido da existência dos problemas do tal garoto, mas o uso da droga ou da bebida raramente se estabelece, ou se inicia por reforço negativo. Na verdade, iniciamos fazendo uso recreativo e mais tarde percebemos, ou nem percebemos, mas aprendemos que ao usar a substância, ao ficar “chapado”, “ruim” ou “doidão”, encontramos algum alívio.

“Mas se não for assim a gente endoida”, dirão alguns, e eu não discordarei. Contudo, devido a particularidades químicas e outros pormenores do uso de drogas e álcool, com o tempo a substância passa a ser nosso único meio de lidar com o problema. Sabemos que isso não é uma boa saída, pois, aliviar-nos de um sofrimento causado por um problema não resolve a questão, nem nos torna mais apto a lidar com ela. A bebida te ajuda a lidar com o desespero de um emprego ruim, ou de uma perda, contudo não te torna mais apto a procurar outro emprego ou resolver um luto, e nem favorece a criação de um repertório de enfrentamento dessas situações adversas.

O difícil é romper o ciclo. Romper com aquela crença de que a solução está no fundo dessa garrafa. Se não dessa, talvez na próxima ou na próxima…  Mas acredite, é possível.

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